Auriculoterapia
A Auriculoterapia consiste na estimulação de pontos específicos do pavilhão auricular, com recurso à aplicação de sementes, de stippers, esferas magnéticas, electro-estimulação ou ponturação com agulhas finas. A orelha é um dos chamados micro-sistemas do corpo humano em que a parte corresponde ao todo, ao estar dotada de receptores interligados com todas as estruturas do organismo, o que permite o tratamento de um vasto conjunto de patologias.
Entre os vários benefícios desta terapia está a sua simplicidade e rapidez de aplicação, o amplo espectro de patologias que trata, a ausência de efeitos secundários e a possibilidade de ser usada independentemente ou em conjunto com outras terapias, como Shiatsu, Magnetoterapia, Moxabustão e Ventosas, assim como complemento de tratamentos estéticos, não interferindo com quaisquer prescrições médicas.
Breve História
A Auriculoterapia é um micro-sistema no âmbito da acupuntura, desenvolvido plenamente como tal a partir de 1969, muito embora tenha a sua origem na Medicina Tradicional Chinesa. Encontram-se, na realidade, várias referencias a esta prática na mais antiga compilação sobre medicina chinesa, o Huang di Neijing ou O primeiro cânone do Imperador Amarelo, que remonta ao século V a.C.
Na Grécia do século IV a.C. Hipócrates usava a técnica de sangria de pontos auriculares, para tratar certas doenças, assim como a cauterização de um ponto específico do pavilhão auricular para o tratamento da dor ciática, que terá aprendido durante a sua estadia no Egipto. O próprio uso de brincos de ouro generalizou-se entre os marinheiros mediterrâneos porque se acreditava que tal melhorava a visão. Ainda hoje as orelhas são perfurados para o uso de brincos justamente no ponto que corresponde aos olhos.
Após a queda do Império Romano, os registos médicos egípcios, gregos e romanos foram melhor conservados na Antiga Pérsia e no mundo Árabe, onde esta terapia continuou a ser aplicada, enquanto que na Europa se torna quase desconhecida, salvo alguns relatórios clínicos renascentistas que mencionam a cauterização da orelha para o alívio da dor nas pernas. O tríptico do Jardim das Delicias de Hugo Bosch (1503-1515) poderá, também, aludir ao conhecimento desta prática por parte do pintor, ao representar duas orelhas trespassadas por uma flecha no ponto Shen Men, literalmente, “porta do céu”, um dos mais importantes pontos auriculares, com efeito sedativo, analgésico e que alivia o stress e a ansiedade.
A consolidação das rotas comerciais com a China a partir de inícios dos século XVII terá reintroduzido na Europa parte desse conhecimento, sendo assim que no século XVII o médico português Zacutus Lusitanus procedia à cauterização do pavilhão auricular para tratar a dor ciática, tratamento que se manteve como válido até aos anos de 1950, em várias zonas da Europa.
Mas é apenas em 1956 que Paul Nogier, médico de clínica geral em Lyon e com formação em homeopatia e acupuntura, apresenta a primeira cartografia auricular, com um total de 36 pontos. Embora de início mal acolhido pela comunidade médica, a divulgação da cartografia de Nogier despoletou uma enorme vaga de interesse sobretudo na China onde, partir de 1958, se multiplicaram os trabalhos de investigação no sentido de aprofundar o conhecimento do pavilhão auricular como micro-sistema. Em 1969 Nogier publica finalmente o Tratado de Auriculoterapia, onde descreve a projecção auricular da coluna vertebral, dos membros e órgãos, assim como o tratamento de diversas patologias. Em 1972 a investigação, liderada pela China, culmina numa cartografia auricular de 200 pontos.
Segundo a proposta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de Junho de 1987 e da Conferência das Organizações de Saúde da Região do Pacifico Oeste, convencionou-se uma cartografia auricular padrão de 90 pontos, embora se reconheça a validade e eficácia dos restantes pontos identificados. Finalmente, em 1990, a Auriculoterapia é reconhecida oficialmente pela OMS.
Base teórico-científica
De uma forma muito genérica, o que determina a eficácia do tratamento através dos micro-sistemas, como é o caso da auriculoterapia, é o facto de que em todos os níveis do sistema nervoso há uma organização tópica que replica as sequências da enervação periférica. No caso do pavilhão auricular, este é enervado por dois nervos espinais, quatro nervos cranianos e pelo sistema nervoso autónomo.
As diferentes estruturas receptoras do sistema nervoso periférico estão projectadas na mesma unidade neuronal, pelo que embora esta receba diferentes tipos de estímulos, cutâneos ou viscerais, a resposta a esses estímulos é idêntica. É essa convergência neuronal que permite que os estímulos em determinados pontos tenham um efeito terapêutico eficaz. A estimulação do pavilhão auricular, estimula a formação reticular, o tálamo, o hipotálamo e o córtex cerebral, os quais por sua vez emitem respostas viscerais e somáticas que se traduzem no reequilíbro das condições patológicas.
Segundo a investigação conduzida por Auziech (1984) o complexo neurovascular subjacente aos pontos auriculares possui uma forte actividade de síntese, de armazenamento e degradação proteica, de transporte de várias substâncias essenciais e de estímulo sináptico que, no conjunto, promovem o equilíbrio homeostático.
Os pontos acupunturais são caracteristicamente pontos de menor resistência eléctrica que coincidem com uma estrutura histológica particularmente rica em elementos microvasculares e nervosos, capazes de transmitir impulsos à distância ao estarem interligados com as vias vegetativas periféricas¹. Ao produzir electro-estimulação e, ainda mais, ao ponturar esses pontos e estimular a agulha inserida, o enrolamento dinâmico do tecido conjuntivo liberta uma torrente de neuromoduladores², daí que a auriculoterapia com ponturação de agulhas seja bastante mais eficaz do que o estímulo com recurso a outros elementos que não perfuram a pele (sementes, stippers, bolas magnéticas ou mesmo a electro-estimulação).
¹ Niboyet, 1950; Bossy et al., 1978; Voll, 1983; Auziech, 1989, Kimura et al., 1992; Zilberschtein, J; GIl , F; Sánchez Valverde, M; Laredo, F; Vásquez, 2004
² Langevin, 2001, Langevin et al. 2006
Benefícios
• Simplicidade e rapidez de aplicação
• Rápido alívio de sintomatologias dolorosas
• Tratamento de doenças alérgicas sem os efeitos secundários dos anti-histamínicos (sonolência, fome)
• Tratamento de um vasto conjunto de patologias sem efeitos secundários.
Indicações
• Tratamento da dor: de origem traumática (entorse, luxação, torcicolo), de origem inflamatória (dor reumática, faringite), de origem neuropática (nevralgia do trigémio, ciática e dor pós-operatória)
• Estados inflamatórios, como conjuntivite aguda, otite, bronquite, gastrite
• Asma e doenças alérgicas como a urticária e a rinite
• Alterações de pressão arterial (hipertensão e hipotensão)
• Acne, Psoríase, Eczema, herpes
• Disfunções psicoemocionais (insónia, neurastenia, enurese)
• Combate à adição do tabaco e do álcool
• Disfunções endócrinas (obesidade, alterações menstruais, dismenorreia)
• Impotência sexual
Contra-indicações
Contra-indicada em casos de infecções cutâneas do pavilhão auricular e situações clinicas que requeiram intervenção imediata.
Aconselha-se especial cuidado em grávidas até ao 100º dia, sendo absolutamente contra indicada em casos de antecedentes de abortos espontâneos.
Não deverá ser realizada auriculoterapia quando o paciente tem o estômago cheio ou se encontra sob o efeito de álcool ou drogas.
Em que consiste uma sessão de Auriculoterapia
Numa consulta de Auriculoterapia, e após as iniciais perguntas de diagnóstico, observa-se o pavilhão auricular, de modo a reconhecer as eventuais irregularidades, procedendo-se em seguida ao diagnóstico exercendo uma pressão suave nos pontos detectados com um estilete palpatório ou um detector eléctrico. Após identificados os pontos auriculares em desequilíbrio, desinfecta-se a orelha e procede-se ao tratamento propriamente dito.
O tratamento dependerá de cada paciente e do quadro clínico que se apresente, podendo variar entre a colocação de elementos de sementes de Vaccaria segetalis ou Brassica juncea, bolas magnéticas, stippers de quartzo e electro-estimulação tópica; ou a combinação de várias destas técnicas. Após o tratamento, a orelha é de novo desinfectada e são dadas recomendações ao paciente para continuar o tratamento em casa, no sentido de o tornar ainda mais eficaz.
A duração da sessão não excede os 30m e o número de sessões aconselháveis para cada tratamento depende da patologia observada, não ultrapassando geralmente as 8 ou 10 sessões, sendo os desequilíbrios superficiais por vezes de ainda mais rápida resolução. É muito frequente observarem-se melhoras imediatas logo na primeira sessão, embora um tratamento eficaz implique o seu seguimento.
Acresce que a Auriculoterapia deve e pode ser utilizada de forma preventiva, uma vez que é possível detectar no pavilhão auricular sinais de certas patologias em estado embrionário, ainda antes de se manifestaram no organismo e, desta forma, evitar o seu aparecimento.
Preço
40€
Artigos Científicos
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Uso da auriculoterapia e acupuntura em crianças com sintomatologia de stress: um estudo exploratório, https://www.researchgate.net/publication/271712625_Uso_da_Acupuntura_em_Criancas_com_Sintomatologia_de_Estresse_Um_Estudo_Exploratorio
Efeitos da auriculoterapia sobre a dor do trabalho de parto: ensaio clínico randomizado, R. R. Manfetoni et al., 2016,
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Electro-acupuntura,
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Ação da acupuntura na neurofisiologia da dor: revisão bibliográfica,
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