Image Alt

Moxabustão

Moxabustão

A moxabustão é uma técnica terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa que consiste na aplicação de calor localizado através da queima de artemísia (Artemisia vulgaris) aliando-se os benefícios do calor às propriedades terapêuticas da planta.

 

       

 

As técnicas de diagnóstico e a filosofia de tratamento é idêntica à praticada em acupuntura, mas os pontos acupunturais são estimulados pelo calor em vez de agulhas. Entre os vários benefícios desta terapia está a sua simplicidade e rapidez de aplicação, a ausência de efeitos secundários e a possibilidade de ser usada em conjunto e como complemento de outras terapias como o Shiatsu, a Massagem Desportiva e tratamentos de estética segundo a Medicina Tradicional Chinesa, não interferindo com quaisquer tratamentos médicos.

Breve História

O uso terapêutico da Moxabustão remonta a mais de 2500 anos na antiga China. O registo mais antigo, o Zuo zhuan data de 581 a.C., aparecendo também várias referências no Huang Di Nei Jing (compilado entre 475-221 a.C.), onde se aponta que a origem desta técnica se relaciona com os hábitos da região montanhosa de Su wen, aparecendo também nos livros de seda recuperados na tumba de Ma Wang Dui da dinastia Han (cerca de 168 a.C.).

 

Na dinastia Tang (618-906), destaca-se a obra do famoso médico Sun Simiao – Qian Jin Fang (Mil Brocados de Ouro) – que assinalava entre os seus vários benefícios, o prolongamento da longevidade, sobretudo ao estimular o ponto acupunctural Zusanli (E36). Esta terapia conheceu particular desenvolvimento durante a dinastia Song (960-1279), onde assume destaque a obra Bei Ji Jiu Fa, onde se refere que “em qualquer situação de emergência a moxabustão deve ser usada primeiro”; e a dinastia Yuan (1271-1368), com várias obras dedicadas a esta temática (Chang et al., 2012).

 

Ao longo do tempo tem sido demonstrada a eficácia da moxabustão no tratamento de um amplo conjunto de patologias, sendo especialmente indicada em casos de diarreia, colite; retenção e incontinência urinária; dismenorreia; osteoartrite do joelho; afecções temporomandibulares; alívio da dor; asma; fatiga e herpes, entre outros. No capítulo Guan Neng do Ling Shu, um dos livros que constituem o Huand Di Nei Jing, diz-se que a moxabustão actua onde a agulha não consegue actuar.

 

A investigação moderna sobre moxabustão data do princípio do século XX, tendo sido os Japoneses pioneiros no seu estudo. Na realidade, a palavra “moxa” deriva do Japonês mogusa (em Chinês, Ài jiǔ). Actualmente multiplicam-se os estudos e ensaios científicos sobre o mecanismo de acção, propriedades e usos terapêuticos da moxabustão, com especial ênfase nos seus efeitos sobre o sistema imunitário, o seu efeito analgésico e retardante do processo de envelhecimento. Desde 2010 que a moxabustão, tal como a acupuntura, estão classificadas pela UNESCO na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Base teórico-científica

A investigação científica desenvolvida até ao momento demonstra o efeito anti-inflamatório e imuno-modulador em condições inflamatórias crónicas, sendo bastante eficaz, por exemplo, no caso da Colite Ulcerosa. Foi também demonstrado o efeito benéfico da moxabustão ao estimular o ponto R1 na diminuição da pressão arterial quando comparado com medicamentos anti-hipertensivos; assim como a eficácia da estimulação do ponto Zhiyin (B67) entre a 32ª e a 36ª semana de gravidez para girar o feto para a posição correcta.

 

O mecanismo de acção desta terapia ainda não é, porém, totalmente claro. Os efeitos antipiréticos e termolíticos da moxabustão relacionam-se directamente com os receptores de calor e os receptores polimodais dos pontos acupunturais, provocando a vasoconstricção no local de incidência do calor e a vasodilatação na zona imediatamente à sua volta, aumentando a permeabilidade microvascular e induzindo o aumento súbito das proteínas de choque de calor (HSPs) nos tecidos, o que parece ser um importante factor no mecanismo de acção desta técnica terapêutica.

 

O processo de moxabustão emite também radiação infravermelha, ou seja, energia em forma de partículas electromagnéticas. As medições efectuadas revelam que o espectro de radiação da moxa varia da luz vermelha ao médio infravermelho, com picos situados em 2.4 ?m. A acção desta radiação no organismo produz efeitos térmicos e não-térmicos. As moléculas do corpo absorvem energia infravermelha, convertendo-a em calor e estimulando a circulação sanguínea e as actividades celulares e enzimáticas. Por outro lado, o efeito não-térmico relaciona-se com a interacção entre as ondas electromagnéticas e o organismo, sendo bastante mais complexo, actuando a nível dos tecidos connectivos, dos vasos sanguíneos e linfáticos, assim como do sistema nervoso. A moxabustão actua também a nível do metabolismo celular, activando os processos fotoeléctricos e fotoquímicos.

 

A estes vários aspectos, acrescem as propriedades terapêuticas da planta usada, Artemisia vulgaris: analgésica, anti-séptica, anti-espasmódica, anti-inflamatória, anti-microbiana, cicatrizante, emenagoga, sedativa e tónica. Até agora, foram identificados 60 componentes no óleo volátil da moxa (1,8-cineol, alcenos, cânfora, bornel, assim como aldeídos, cetonas, fenóis, alcanos e compostos de benzeno, além de taninos, avonoides, esteróis, polissacarídeos e traços de outros elementos), que actuam a diversos níveis, desde a expansão dos músculos lisos e o alívio da tosse, à actividade antioxidante. O fumo da moxa pode ser usado na desinfecção de feridas, assim como do ar, pelas suas propriedades antivirais e antifúngicas.

 

Os estudos realizados confirmam ainda alterações na actividade cerebral, sobretudo na região do cortéx pré-frontal, aumentando o número de sinapses e a libertação neural de óxido nítrico, que actua enquanto neuro-transmissor do sistema nervoso periférico, detendo também um importante papel no sistema gastro-intestinal, sendo talvez um dos aspectos que explica o aumento da diversidade na flora intestinal que comprovadamente deriva da moxabustão.

Benefícios

• Activa a circulação sanguínea
• Estimula a actividade enzimática
• Tonifica as fibras elásticas
• Tem um efeito regenerador celular
• Efeito anti-inflamatório
• Efeito anti-espasmódico nos tecidos musculares

Indicações

• Síndromes de fatiga
• Dores abdominais
• Dores menstruais
• Nevralgias do trigémeo
• Nevralgia occipital
• Espondilose cervical
• Perartrite do ombro
• Osteoartrite do joelho
• Ciática
• Lombalgia
• Cólica renal
• Espasmo gástrico
• Paralisia facial
• Vertigem
• Insónia
• Colite
• Hipertensão
• Leucorreia
• Opressão toráxico-abdominal
• Cefaleias
• Vitiligo
• Psoriasis

Contra-indicações

A moxabustão é contra-indicada no caso de estados febris, infecções virais, durante a digestão, sob o efeito de álcool ou drogas; e em grávidas antes de completar os 100 dias de gravidez.

Em que consiste uma sessão de Moxabustão

A consulta é iniciada com a observação do paciente e várias perguntas de diagnóstico, procedendo-se depois ao reconhecimento das zonas em desequilíbrio, estando o paciente deitado numa marquesa ou sentado, consoante os casos.

 

Após identificados os pontos em desequilíbrio, procede-se ao tratamento que dependerá de cada paciente e do quadro clínico que se apresente, assim como das condições atmosféricas, uma vez que estas têm efeitos directos nas funções fisiológicas e condições patogénicas.

 

       

 

Em função destas variantes, o terapeuta opta pelo método de tratamento mais adequado, entre o charuto de artemísia ou a aplicação de cones de artemísia sobre gengibre, alho ou sal colocado directamente sobre a pele. A aplicação do calor localizado é feita de modo a não provocar qualquer queimadura.

 

Assinala-se que embora a moxabustão seja um tratamento usado em situações agudas, como estados dolorosos, tem uma grande eficácia a nível preventivo. O tratamento de dores menstruais, por exemplo, deve ser realizado antes do período de menstruação em mulheres com habitual incidência desta situação.

 

A duração normal da sessão é de 30 minutos e o número de sessões aconselháveis para o tratamento depende de cada caso.

Preço

30€

Artigos Científicos

Chang, X., Jing, H., Shouxiang, Y., 2012,
Illustrated Chinese Moxibustion Techniques and Methods

 

Xu, J. et al., 2014,
Safety of Moxibustion: A Systematic Review of Case Reports

 

Deng, H., Shen, X., 2013,
The Mechanism of Moxibustion: Ancient Theory and Modern Research,

 

Huang, C. et al. 2017,
Moxibustion in Early Chinese Medicine and Its Relation to the Origin of Meridians: A Study on the Unearthed Literatures,

 

Huang., Z. Et al. 2017,
Moxibustion for Chemotherapy-Induced Nausea and Vomiting: A Systematic Review and Meta-Analysis,

 

Chen, R. et al. 2014,
A 3-Arm, Randomized, Controlled Trial of Heat-Sensitive Moxibustion Therapy to Determine Superior Effect among Patients with Lumbar Disc Herniation

 

Kim, S.Y., 2011 ,
The Effectiveness of Moxibustion: An Overview During 10 Years

 

Chen, R. Et al. 2012,
Is There Difference between the Effects of Two-Dose Stimulation for Knee Osteoarthritis in the Treatment of Heat-Sensitive Moxibustion?

 

Huang, R. et al.2014,
Mechanisms Underlying the Analgesic Effect of Moxibustion on Visceral Pain in Irritable Bowel Syndrome: A Review

 

Res, X. et al. 2015,
Effectiveness of Moxibustion Treatment in Quality of Life in Patients with Knee Osteoarthritis: A Randomized, Double-Blinded, Placebo-Controlled Trial

 

Shen, X. et al. 2015,
Biophysical and Clinical Research on Acupuncture and Moxibustion

 

Wei., D. et al. 2019,
Gut Microbiota: A New Strategy to Study the Mechanism of Electroacupuncture and Moxibustion in Treating Ulcerative Colitis

 

Yang, J. 2014,
Effectiveness Study of Moxibustion on Pain Relief in Primary Dysmenorrhea: Study Protocol of a Randomized Controlled Trial

 

Yang, X. et al. 2014,
Effectiveness of Stimulation of Acupoint KI 1 by Artemisia vulgaris (Moxa) for the Treatment of Essential Hypertension: A Systematic Review of Randomized Controlled Trials

 

Song, X.-J. et al. 2016,
Analysis of the Spectral Characteristics of Pure Moxa Stick Burning by Hyperspectral Imaging and Fourier Transform Infrared Spectroscopy

 

Wang, Y. et al. 2016,
Fire-Needle Moxibustion for the Treatment of Knee Osteoarthritis: A Meta-Analysis

 

Tang., B. et al. 2016,
Moxibustion for Diarrhea-Predominant Irritable Bowel Syndrome: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials

 

Chen, R. et al. 2019,
Long-Term Potentiation of Prelimbic Cortex Ascribed to Heat-Sensitization Responses of Moxibustion

 

Brici, P. et al. 2019 ,
urning Foetal Breech Presentation at 32-35 Weeks of Gestational Age by Acupuncture and Moxibustion

 

Ji, J. et al. 2016,
Review of Clinical Studies of the Treatment of Ulcerative Colitis Using Acupuncture and Moxibustion

 

Chiu, J.-H. 2013,
How Does Moxibustion Possibly Work?

 

Lu., J. et al. 2019,
Moxibustion Exerts a Neuroprotective Effect through Antiferroptosis in Parkinsons Disease

 

Lin, J.-G. Et al. 2014,
Clinical Efficacy, Mechanisms, and Safety of Acupuncture and Moxibustion

 

[1]  H. Qinfeng, W. Huangan, L. Jie et al., “Bibliometric analysis of diseases spectrum of moxibustion therapy,Journal of Acupunc- ture and Tuina Science, vol. 10, no. 6, pp. 342–334, 2012

 

Bian, X.-M. et al., 2013,
Moxibustion Therapy at CV4 Prevents Postoperative Dysuria after Procedure for Prolapse and Hemorrhoids

 

Cheng, J. et al., 2019,
Whole Transcriptome Sequencing Reveals How Acupuncture and Moxibustion Increase Pregnancy Rate in Patients Undergoing In Vitro Fertilization-Embryo Transplantation

 

S.-H. Yi, “ ermal properties of direct and indirect moxibus- tion,Journal of Acupuncture and Meridian Studies, vol. 2, no. 4, pp. 273–279, 2009

 

Seki, T et al., 2011,
Changes of blood ow volume in the superior mesenteric artery and brachial artery with abdominal thermal stimulation,Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine,
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3095448/

 

Kobayashi, K., 1995,
Induction of heat-shock protein (hsp) by moxi- bustion,e American Journal of Chinese Medicine, vol. 23, no. 3-4, pp. 327330, https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8571930

 

Shen, X. et al., 2006,
An infrared radiation study of the biophysical characteristics of traditional moxibustion,Complementary Terapies in Medicine, vol. 14, no. 3, pp. 213–219, https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16911902

 

L. Zhao, L., Shen, X., 2013,
Chemical and physical Characteristics of Moxibustion,” in Current Research in Acupuncture, Y. Xia, G. Ding, and G.-C. Wu, Eds., pp. 109–127, https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-1-4614-3357-6_5

 

Chiba, A. et al., 1997,
Termal and anti-radical properties of indirect moxibustion,American Journal of Chinese Medicine, vol. 25, no. 3-4, pp. 281–287, https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9358901

 

Kobayashi, K., 1988,
Organic components of moxa,American Journal of Chinese Medicine, vol. 16, no. 3-4, pp. 179–185,
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3245538

 

Huang, H.-C. et al., 2012,
Dual bioactivities of essential oil extracted from the leaves of artemisia argyi as an antimelanogenic versus antioxidant agent and chemical composition analysis by GC/MS,International Journal of Molecular Sciences, vol. 13, pp. 14679–14697,
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23203088

 

Hitosugi, N. et al., 2012,
Diverse biological activities of Moxa extract and smoke,In Vivo, vol. 15, no. 3, pp. 249–254,
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11491021

 

Deng, H., Shen, X., 2013,
The Mechanism of Moxibustion: Ancient Theory and Modern Research,
https://www.hindawi.com/journals/ecam/2013/379291/